The Peninsula Times - Jantar com desconhecidos: uma iniciativa para combater a polarização na Áustria

Johannesburg -
Jantar com desconhecidos: uma iniciativa para combater a polarização na Áustria
Jantar com desconhecidos: uma iniciativa para combater a polarização na Áustria / foto: Alex HALADA - AFP

Jantar com desconhecidos: uma iniciativa para combater a polarização na Áustria

Um policial, um artista e uma administradora de patrimônio. Eles não se conhecem, mas compartilham uma refeição como parte de uma iniciativa austríaca voltada para combater a polarização.

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Os jantares são realizados em Viena para aproximar pessoas de diferentes orientações sexuais, idades, religiões e opiniões políticas que aceitam sair de sua zona de conforto por uma noite.

"Com a pandemia e as guerras atuais, perdi amigos por ter opiniões divergentes", disse Cornelia Grotte à AFP, após aceitar o convite para encontrar estranhos e socializar.

"Nos isolamos em nossas bolhas", acrescentou a mulher de 32 anos que trabalha na mídia.

Grotte encontrou-se este mês com cerca de 20 pessoas para jantar em uma praça em frente à prefeitura de Viena, após se inscrever para uma vaga.

- Quebrar o gelo -

Existem aplicativos para reunir desconhecidos para jantar, como o Timeleft, mas o projeto na Áustria busca se diferenciar do mundo digital, onde críticos afirmam que os algoritmos exacerbam a polarização ao manter as pessoas em bolhas ideológicas.

"Nesta era de redes sociais, é muito importante dizer as coisas diretamente, interagir frente a frente e não escondido atrás de uma tela", comentou a comediante austríaca Linda Hold, que participou como celebridade convidada para animar a noite.

Tudo é gratuito no jantar, organizado nesta ocasião pela prefeitura à margem de um festival ao ar livre.

A única condição é que os participantes cheguem com outra pessoa que não tenha seu mesmo estilo de vida.

Grotte convidou uma amiga iraniana que se mudou para a Áustria em 2013. Sua colega Neda Saffar hesitou, mas finalmente aceitou acompanhá-la.

"Como mulher imigrante e com sotaque estrangeiro, normalmente não discordo em uma conversa, e as pessoas têm cada vez mais preconceitos", comentou Saffar, de 35 anos.

Para quebrar o gelo, os organizadores fornecem a cada participante duas perguntas para iniciar a conversa.

Os risos se espalham conforme a noite avança e, quando surgem opiniões divergentes, os participantes tratam-se com respeito, mesmo ao discutir temas delicados como a integração de crianças que não falam alemão nas escolas públicas.

- Senso de pertencimento -

"Esses encontros exigem que você saia da sua zona de conforto", apontou Katharina Jeschke, chefe na Áustria do grupo Mesas Redondas e Quadradas, que organiza os jantares.

"Muitos participantes dizem que inicialmente não sabiam quem levar porque sempre andam com as mesmas pessoas... a mesa oferece um senso de pertencimento", acrescentou.

O projeto foi concebido no ano passado, quando os violentos confrontos verbais entre políticos durante campanhas eleitorais em países ocidentais revelaram até que ponto as pessoas estavam perdendo o respeito mútuo, comentou Jeschke.

Na Áustria, o Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema direita, venceu as eleições de setembro pela primeira vez, embora não tenha conseguido formar governo.

O projeto foi criado pelo bispo de Innsbruck e dois vienenses membros da Comunidade Emmanuel, uma iniciativa católica internacional que promove o diálogo.

Ao concluir o evento, os participantes celebram por terem "aprendido coisas", trocam números de telefone com seus novos conhecidos e partem com a ideia de organizar encontros similares para ajudar outros a encontrar seu lugar à mesa.

(G.Khumalo--TPT)